O universo dos procedimentos estéticos vai muito além das intervenções mais comuns. Hoje em dia, é possível fazer plásticas em várias partes do corpo, e um dos procedimentos menos conhecidos é a plástica anal.
A cirurgia de plástica anal é recomendada para corrigir imperfeições na região do ânus. Comumente, essas imperfeições são excessos de pele, conhecidos como plicomas anais (ou retais). Além de ter uma melhora estética, a retirada dos plicomas também auxilia na higiene da região e pode melhorar sintomas como coceira anal e sensação de inchaço no ânus.
Figura 1: Exame físico do ânus expondo os plicomas anais.
O plicoma anal é uma saliência de pele que é normalmente localizada na parte de fora do ânus. Geralmente não causa dor nem tem sintomas associados e são percebidos durante a higienização do ânus ou ato sexual. Eles são mais comuns em mulheres que já engravidaram e pessoas acima do peso.
No entanto, em alguns casos, a imperfeição pode causar coceira e contribuir para o acúmulo de resíduos de fezes, como se fosse uma sujidade persistente, mesmo após higiene. Quando isso acontece, é mais fácil e comum o surgimento de inflamação na região.
Não existe uma causa específica para o aparecimento de plicomas, mas eles geralmente surgem por inflamações crônicas no ânus. O processo inflamatório faz com que a região inche e, ao desinchar, a pele não volta ao normal, gerando, assim, a flacidez e o excesso de pele com aspecto de pele murcha. Esse processo é muito comum após o processo de cicatrização de uma trombose de hemorroidas.
As mulheres grávidas podem ter plicoma anal por causa do aumento das hemorroidas. O útero gravídico e alterações hormonais aumentam a pressão intra-abdominal e, consequentemente, elevam a pressão nas veias da pelve e da região anorretal, desenvolvendo varizes pélvicas e hemorroidas.
O inchaço das hemorroidas pode fazer com que a pele perca elasticidade e acabe formando o plicoma. Principalmente quando ocorre uma complicação como trombose hemorroidária, que forma um coágulo dentro da hemorroida e desencadeia um inchaço da pele, no processo de desinchar forma-se o excesso de pele anal indesejado. A evacuação de fezes endurecidas também contribui para o problema, porque cria um processo de atrito crônico na região anal e no plexo de veias das hemorroidas.
Na cicatrização da fissura anal existe um processo de inflamação e consequente cicatrização da ferida crônica causada pela fissura anal, a pele se espessa para tentar fechar a fissura e muitas vezes esse espessamento de pele desenvolve um plicoma sentinela na base da fissura. Esse efeito cicatricial indesejado por ocorrer também após outras cirurgias anais de tratamento de hemorroidas e fístula anal.
Neste caso, na Doença de Crohn, que é uma doença inflamatória intestinal, pode ocorrer uma degeneração crônica da pele do ânus e do canal anal por um processo inflamatório autoimune, que deixa a pele mais grossa e predispõe a formação de grandes plicomas dolorosos.
Processos alérgicos como dermatite de contato por algum medicamento ou produto químico aplicado no ânus e infecção crônica de micoses por fungos também podem causar a formação de plicomas.
Isso acontece porque as fezes ressecadas e endurecidas exigem um esforço maior durante a evacuação, o que pode causar atrito maior no canal anal e desencadear a formação de doenças anais como plicomas, hemorroidas, fissuras e fístulas anais.
Durante o esforço do trabalho de parto normal existe grande pressão no assoalho pélvico e nos vasos pélvicos, principalmente quando o trabalho de parto é prolongado durando muitas horas, consequentemente força-se as veias das hemorroidas e desencadeia-se com frequência trombose de hemorroidas e a formação crônica de plicomas anais.
Os plicomas podem surgir pela prática de sexo anal, apesar de não serem uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). A formação de plicomas anais devido a prática de sexo anal ocorre pelo atrito crônico e formação de pequenas fissuras anais de repetição, o processo de cicatrização anal repetidas vezes pode desencadear a formação do excesso de pele anal indesejado. No entanto, isso tem muito maior chance de ocorrer quando a prática do sexo anal é feita sem lubrificação adequada e quando são utilizados instrumentos, que aumentam o atrito anal e o processo de inflamação de repetição. Desta forma, a prática do sexo anal com lubrificação adequada diminui a chance de formar plicomas anais.
O sintoma mais frequente do plicoma anal é a sensação de ter uma pele solta no ânus. Essa pele em excesso no ânus pode causar incômodo local, coceira, sensação de resíduos fecais mesmo após higiene e uma aparência estética indesejável.
O diagnóstico deve ser feito por meio de um exame proctológico pelo especialista - coloproctologista. O médico realiza a inspeção estática e após esforço de evacuação, toque retal e anuscopia interna, em alguns casos pode ser necessário realizar a retoscopia. O aspecto do plicoma depende do tamanho, que pode ser bem pequeno de 0,3 cm até grandes plicomas de 3-4 cm, a cor pode ser rósea ou marrom escuro, dependendo a tonalidade da pele do paciente, geralmente a cor é semelhante a do mamilo do paciente. É frequente encontrarmos plicomas que tem uma comunicação de vasos com uma hemorroida interna, ou com uma cicatriz de fissura anal antiga.
Caso seja necessário, pode ser feita uma biópsia, quando uma amostra minúscula do plicoma é retirada para ser analisada. Isso pode ser necessário se houver suspeita de ser outra doença, principalmente se houver alguma característica “suspeita” em relação ao tamanho, forma, endurecimento ou cor da lesão.
Figura 2: Cirurgia de Plicoma Anal e Plástica anal
A retirada do plicoma anal é feita por meio de intervenção cirúrgica eletiva. O procedimento é indicado quando o paciente se sente incomodado com a protuberância e excesso de pele anal, o motivo pode ser estético, coceira anal crônica, sensação de resíduos fecais após evacuação mesmo após adequada higiene anal e sensação de inchaço anal aos esforços.
A cirurgia é relativamente simples. O excesso é retirado com um corte cuidadoso para não interferir na parte funcional do ânus e a ferida é fechada por camadas, ponto a ponto verificando o “caimento” da pele anal para não ficar dobrinhas ou retrações, e por todo esse cuidado e detalhamento técnico que essa cirurgia ficou popularmente conhecida como PLÁSTICA ANAL. Nos dias que antecedem a cirurgia pedimos para os pacientes fazerem uso de alimento ricos em fibras e de alguns laxativos para que as fezes saiam mais amolecidas nos primeiros dias de pós-operatório.
Depois do procedimento, o paciente pode voltar a fazer esforços leves em até 7 dias. As atividades pesadas e exercícios físicos, porém, só devem voltar a ser realizados após a completa cicatrização da ferida.
A evacuação pode ocorrer normalmente após a cirurgia. As primeiras podem causar alguma dor ou desconforto, mas isso é importante para que a ferida seja cicatrizada corretamente. Também é comum a presença de sangue e fibrina nas fezes logo após a intervenção.
Quando a cicatrização não é feita de maneira correta, a retirada do plicoma pode acarretar em fissuras anais, principalmente em pacientes com maus hábitos intestinais e fezes ressecadas. Caso isso ocorra, deverá ser feito um tratamento específico para a correção do problema.
A melhor forma de não precisar de uma cirurgia plástica anal, no entanto, é prevenir o aparecimento dos plicomas.
Para isso, o paciente deve evitar hábitos intestinais ruins com a formação de fezes duras e ressecadas, por meio de uma alimentação rica em fibras e hidratação adequada.
Os alimentos que contêm maior teor de fibras e devem estar presente na dieta são: as leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, grão de bico, soja em grão); grãos, farelos e farinhas integrais (arroz, linhaça, aveia, cevada, milho, trigo); frutas (abacate, abacaxi,banana, caju, goiaba, kiwi, laranja, maçã com casca, manga, maracujá, mamão, melancia, melão, tangerina, morango, pêra com casca, pêssego com casca, tâmara, uva fresca e passas) e vegetais (alface, abóbora, abobrinha, aipo, aspargos, beterraba, brócolis, couve, acelga, batata-doce, rúcula, escarola, espinafre, repolho, salsa, cebolinha, cebola, cenoura crua, couve-flor, milho verde, pepino, pimentão, quiabo, rabanete, tomate cru).
Deve-se evitar também a ingestão de alimentos como pimenta, pimentão, temperos prontos e linguiça. Também é recomendável evitar comidas muito condimentadas.
Muita gente confunde plicomas com hemorroidas, são dois problemas diferentes, no entanto, podem coexistir. Enquanto o plicoma é um excesso de pele, a hemorroida é um vaso inchado e dilatado que pode inflamar, causando sangramento e dor. Ela também aparece na região do ânus.
As hemorroidas são divididas entre as internas e as externas. As internas provocam sintomas com sangramento, sensação de nódulo anal durante a evacuação e dor anal. As causas da formação de hemorroidas são diversas. Pessoas obesas e grávidas são mais propensas a desenvolver o problema, pois o excesso de peso pressiona as veias da pelve. Ter uma vida sedentária e não praticar exercícios também é um fator de risco. Dieta pobre em fibras, esforço para evacuar e predisposição genética também estão entre as causas.
Os tratamentos existentes variam de acordo com o estado de cada paciente. Alguns casos podem ser resolvidos com uso de pomadas ou supositórios. Outros podem necessitar de cirurgia chamada de hemorroidectomia e que implica na retirada dos vasos comprometidos.
Para prevenir a formação de hemorroidas recomenda-se adotar hábitos saudáveis de vida, que incluem rotina de exercícios físicos e alimentação equilibrada, rica em alimentos com fibras e consumo de frutas frescas. É importante também beber bastante líquidos e evitar o excesso de bebidas alcoólicas.
O plicoma anal muitas vezes é confundido com outras doenças, como o HPV anal, que causa verrugas na região anal, conhecidas como condilomas.
As verrugas costumam surgir entre 1 e 6 meses após o contágio. A aparição é mais rápida em mulheres gestantes e em pacientes imunossuprimidos, como os portadores de HIV, o vírus da AIDS.
O HPV, no entanto, pode ficar assintomático no organismo por anos. A diminuição da resistência do organismo pode desencadear a multiplicação do HPV e, consequentemente, provocar o aparecimento de lesões.
As primeiras manifestações da infecção surgem em meses, mas pode demorar até 20 anos para aparecer algum sinal. A maioria das infecções em mulheres, principalmente nas adolescentes, tem resolução espontânea, pelo próprio organismo, em até 24 meses.
Mesmo quando as lesões surgem, algumas podem ser invisíveis a olho nu. Veja as diferenças abaixo:
Elas são os condilomas. Na maioria dos casos, são verrugas na região genital e no ânus, popularmente conhecidas como “crista de galo”, “figueira” ou “cavalo de crista”. Podem ser únicas ou múltiplas, de tamanhos variáveis, achatadas ou papulosas (elevadas e sólidas). Em geral, são assintomáticas, mas podem causar coceira no local.
Essas são as invisíveis a olho nu. Elas podem ser encontradas nos mesmos locais das lesões clínicas e não apresentam sintoma. As lesões subclínicas podem ser causadas por tipos de HPV de baixo e de alto risco para desenvolver câncer e podem acometer vulva, vagina, colo do útero, região perianal, ânus, pênis (geralmente na glande), bolsa escrotal e/ou região pubiana. Menos frequentemente, podem estar presentes em áreas extragenitais, como conjuntivas, mucosa nasal, oral e laríngea.
Se perceber qualquer alteração na região anal e perineal, procure o seu médico coloproctologista para que esse possa realizar o exame clinico e o diagnostico diferencial das lesões para que seja prescrito o tratamento adequado. Atente-se em procurar profissional com título de especialista da Sociedade Brasileira de Coloproctologia registrada no conselho regional de medicina do seu estado.