A colelitíase, ou pedra na vesícula, é mais comum do que imaginamos. Nos Estados Unidos, é estimado que 15% da população possua colelitíase. Já na Europa, o número é de 20%.
Vídeo 1: Resumo sobre “pedra na vesícula” e seu tratamento.
No Brasil, acredita-se que os dados sejam semelhantes ao dos americanos e dos europeus. Então, nesse texto, falaremos sobre as causas, sintomas, tratamentos e prevenção de pedra na vesícula. Vamos responder às principais perguntas sobre o tema:
Mas, antes de responder a essas perguntas, vou te explicar o que é a pedra na vesícula. O nome científico para pedra na vesícula é Colelitíase, que acontece quando se formam “cálculos biliares”. Estes cálculos são verdadeiras pedras dentro da vesícula biliar.
Agora que você já sabe o que é a colelitíase, vamos entender melhor como ela se forma. A vesícula biliar fica inserida na parte inferior do fígado, e é responsável por armazenar e solubilizar parte da bile produzida pelo fígado.
A bile produzida pelo fígado tem a função de auxiliar a absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Uma vez produzida, a bile é direcionada para o intestino por meio de uma estrutura tubular chamada de colédoco.
Essa informação é muito importante, lembre-se dela. E não se esqueça de que a bile é produzida pelo fígado. A vesícula biliar NÃO produz bile, ao contrário do que muitos acreditam.
A função da vesícula biliar é armazenar parte dessa bile como se fosse um reservatório “extra”. Quando acontece grande ingestão de gordura e existe a necessidade de um volume maior de bile, a vesícula biliar “libera” esse conteúdo extra. Isso serve para absorver todo esse alimento gorduroso.
O problema começa a surgir quando a vesícula biliar perde a capacidade de solubilizar a bile, ou deixá-la fluida. Uma vez que isso ocorre, a bile se transforma em um material mais denso, chamado de barro ou lama biliar. Agora densa, ela vai virar as “pedras na vesícula”.
Vídeo 1: Resumo sobre “pedra na vesícula” e seu tratamento.
Agora vamos as respostas das perguntas:
Agora você já entendeu o passo a passo para a formação da pedra na vesícula. Então, fica mais simples de compreender o que causa essa formação. Podemos dividir os fatores causais em Fatores sistêmicos e Fatores relacionados a bile e vesícula biliar.
Além das causas, existem alguns fatores de risco. Eles podem facilitar o aparecimento da pedra na vesícula. Confira abaixo quais são e entenda mais:
Porém, existem ainda dois fatores locais estritamente dependentes da vesícula biliar. Eles são a função do músculo liso e a supersaturação da bile em colesterol e precipitação de cristais sólidos.
São diversos os fatores que podem facilitar o aparecimento dessa condição. É por isso que é preciso ficar de olho. Se achar que corre o risco, procure um especialista e faça os exames necessários.
Muitos pacientes são surpreendidos em exames de rotina com o diagnóstico de colelitíase. Esses exames incluem a ultrassonografia de abdome total ou tomografia de abdome. Nesses casos, o paciente afirma que não tinha qualquer queixa ou sintoma.
No entanto, quando as pedras se movem e induzem uma contração espástica da vesícula, iniciam-se os sintomas. Geralmente, isso ocorre após comer gorduras ou temperos mais “fortes”.
Em alguns casos, até o cheiro de alguns alimentos pode desencadear a “cólica biliar”. Os sintomas mais comuns das crises de pedra na vesícula são diversos e ajudam a identificar o problema Eles são:
Caso a dor abdominal tenha uma intensidade muito forte e seja associada a vômitos de repetição e olhos amarelos, pode ter ocorrido a inflamação da vesícula. Essa é uma colecistite aguda.
Também pode ter ocorrido migração da pedra da vesícula para o canal da bile, ou colédoco. Por fim, também é possível que tenha evoluído para uma pancreatite aguda biliar. Nestes casos é fundamental procurar atendimento médico de urgência, pois houve uma complicação que necessita de tratamento imediato.
A colelitíase é uma doença silenciosa na maior parte dos pacientes. No entanto, ao longo da vida, existe o risco das pedras na vesícula criarem situações de grande risco para a saúde. Os 3 principais riscos de quem tem pedras na vesícula são os seguintes:
Colecistite aguda: é quando o cálculo biliar fica preso no ducto que escoa bile da vesícula para o colédoco. Essa impactação da pedra desencadeia um aumento da pressão dentro da vesícula, como se fosse uma panela de pressão.
Além disso, também acumula bactérias no seu interior, iniciando-se fortes contrações para expulsar essa pedra. Esse processo é uma inflamação aguda que resulta em uma potencial infecção grave. Existe a necessidade de cirurgia de urgência para que esta infecção não se dissemine pelo corpo (sepse).
Coledocolitíase: pedra que migrou da vesícula e ficou presa no canal da bile (colédoco). Isso resulta em processo de inflamação e infecção progressiva, chamada de colangite.
Essa situação precisa ser resolvida em caráter de urgência por meio da extração do cálculo impactado no canal por meio de procedimento. Isso também é chamado de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE).
Pancreatite aguda: a partir do momento em que a pedra sai da vesícula e passa através do colédoco, existe uma possibilidade de atritar. Também é possível entupir a confluência do ducto da bile com do pâncreas (Wirsung).
Isso acaba por desencadear um processo inflamatório do pâncreas, que é a pancreatite. Felizmente, na maioria dos casos, a pancreatite é leve. No entanto, em 10% dos casos pode ser grave e pode levar a óbito.
Figura 2: Coledocolitíase –pedra da vesícula dentro do canal da bile.
Figura 3: Pancreatite biliar – migração da pedra na vesícula e inflamação do pâncreas.
Muitos pacientes perguntam se esse processo de “concentração” da bile pela vesícula é reversível e se essas pedras podem ser dissolvidas. Infelizmente, não existe tratamento definitivo e comprovadamente eficaz.
E isso vale pelo uso de medicamentos, que podem dissolver definitivamente as pedras na vesícula. Sendo assim, eles não podem fazer a vesícula biliar retomar seu papel de deixar a bile mais fluida.
O tratamento padrão ouro para tratamento de pedra na vesícula é a colecistectomia por laparoscopia. Existe também a possibilidade de realizar essa cirurgia por via robótica.
A cirurgia para pedra na vesícula – colecistectomia, é uma das cirurgias mais realizadas no mundo. Ela está entre as top 10, dentro do aparelho digestivo e só perde para a cirurgia para retirada do apêndice.
É realizada com o paciente sob anestesia geral. O tempo cirúrgico gira em torno de 30 e 90 minutos e o tempo necessário de permanência hospitalar é de 12 a 24 horas.
Na colecistectomia laparoscópica, é realizada a retirada da vesícula biliar e das pedras no interior. Diferentemente do que muitas pessoas pensam, não é possível abrir a vesícula e retirar as pedras
Também não é possível bombardear a vesícula com ondas de som, à semelhança do que realizado para tratamento de pedras nos rins. A colecistectomia laparoscópica é segura e apresenta risco de complicações cirúrgicas muito baixas (menor que 1%). Mas deve ser realizada de forma padronizada por cirurgião experiente.
A colecistectomia laparoscópica é realizada por meio de pequenas incisões ou furinhos na parede abdominal, de 5 a 10mm. Mas, em pacientes que possuem um apelo estético maior, pode ser feita com furinhos ainda menores, de 3mm.
Para isso, utiliza-se material de minilaparoscopia. Além disso, dependendo do caso, a localização dos furinhos pode ser modificada. A extração da vesícula é aplicada no término da cirurgia, puxando-a através de um dos furinhos.
Durante a cirurgia de retirada de pedras da vesícula, é possível verificar se houve alguma migração de pedras antes do procedimento ser realizado. Essa busca pelos cálculos biliares no colédoco chama-se colangiografia intra-operatória, que é realizada quando for necessário.
Paciente que está esperando para realizar o procedimento necessitam abster-se de alimentos ricos em gordura animal e vegetal. Isso inclui os que têm contraindicação para realização da colecistectomia laparoscópica por alto risco operatório, ou simplesmente não querem realizar a cirurgia.
Lembrando que doces, chocolates, leite integral e azeite são ricos em gordura, além dos temperos fortes. Desta forma, a dieta precisa ser bem rigorosa para diminuir os riscos das complicações descritas na resposta da pergunta 3.
Uma importante medida é incluir mudanças no estilo de vida. Então, atividades físicas, controle de peso, e alterações nos modelos de dieta restringindo gorduras devem ser utilizadas.
E lembre-se de dar preferência a dietas pobres em carboidratos e ricas em proteínas vegetais. Além disso, consuma azeite extra-virgem, ácidos graxos ômega-3, fibras e vegetais, suplementação de vitamina C, frutas e diminua o consumo de álcool.
Eu sei que você está se perguntando: Mas essa vesícula biliar que precisa ser retirada na cirurgia não vai fazer falta? A vesícula retirada já estava doente, apresentando dificuldade de solubilizar a bile e com distúrbio de esvaziamento.
Lembre-se de que é o motivo pelo qual desenvolveu as pedras. Portanto, na grande maioria dos pacientes submetidos a colecistectomia laparoscópica, não ocorre qualquer diferença de digestão ou alteração de hábito intestinal.
No entanto, uma minoria de pacientes pode apresentar uma sensação de má digestão e aumento da frequência evacuatória. Mas claro, somente quando ingerem grande quantidade de gordura animal ou vegetal.
Para finalizar, existe alguma recomendação de dieta após a retirada da vesícula? –Sim! Nas primeiras 2 semanas de pós-operatório, recomendamos dieta pobre em gordura animal e vegetal. Esse é um período de adaptação da dinâmica do fluxo biliar hepato-intestinal.
Caso haja a necessidade de avaliação do seu caso por um especialista, certifique-se que esse profissional seja Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo. Essa pesquisa pode ser feita por meio do site do conselho regional de medicina do seu estado.