Pedra na vesícula: Causas, Sintomas e Tratamento

A colelitíase, ou pedra na vesícula, é mais comum do que imaginamos.  Nos Estados Unidos, é estimado que 15% da população possua colelitíase. Já na Europa, o número é de 20%.


Vídeo 1: Resumo sobre “pedra na vesícula” e seu tratamento.

No Brasil, acredita-se que os dados sejam semelhantes ao dos americanos e dos europeus. Então, nesse texto, falaremos sobre as causas, sintomas, tratamentos e prevenção de pedra na vesícula. Vamos responder às principais perguntas sobre o tema:‍

  1. O que causa pedra na vesícula?
  2. Quais são os sintomas de pedra na vesícula?
  3. É perigoso ter pedra na vesícula?
  4. Qual o tratamento de pedra na vesícula?
  5. Quem tem pedra na vesícula não pode comer quais alimentos?
  6. Como prevenir pedra na vesícula?
  7. Quais as consequências da retirada da vesícula biliar? 

Mas, antes de responder a essas perguntas, vou te explicar o que é a pedra na vesícula. O nome científico para pedra na vesícula é Colelitíase, que acontece quando se formam “cálculos biliares”. Estes cálculos são verdadeiras pedras dentro da vesícula biliar.

Como se forma a pedra na vesícula?

Agora que você já sabe o que é a colelitíase, vamos entender melhor como ela se forma. A vesícula biliar fica inserida na parte inferior do fígado, e é responsável por armazenar e solubilizar parte da bile produzida pelo fígado.

A bile produzida pelo fígado tem a função de auxiliar a absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Uma vez produzida, a bile é direcionada para o intestino por meio de uma estrutura tubular chamada de colédoco.

Essa informação é muito importante, lembre-se dela. E não se esqueça de que a bile é produzida pelo fígado. A vesícula biliar NÃO produz bile, ao contrário do que muitos acreditam.

A função da vesícula biliar é armazenar parte dessa bile como se fosse um reservatório “extra”. Quando acontece grande ingestão de gordura e existe a necessidade de um volume maior de bile, a vesícula biliar “libera” esse conteúdo extra. Isso serve para absorver todo esse alimento gorduroso.

O problema começa a surgir quando a vesícula biliar perde a capacidade de solubilizar a bile, ou deixá-la fluida. Uma vez que isso ocorre, a bile se transforma em um material mais denso, chamado de barro ou lama biliar. Agora densa, ela vai virar as “pedras na vesícula”.

Vídeo 1: Resumo sobre “pedra na vesícula” e seu tratamento.


Agora vamos as respostas das perguntas:


1. O que causa pedra na vesícula?

Agora você já entendeu o passo a passo para a formação da pedra na vesícula. Então, fica mais simples de compreender o que causa essa formação. Podemos dividir os fatores causais em Fatores sistêmicos e Fatores relacionados a bile e vesícula biliar.

Além das causas, existem alguns fatores de risco. Eles podem facilitar o aparecimento da pedra na vesícula. Confira abaixo quais são e entenda mais:

  • Obesidade;
  • Idade acima de 40 anos;
  • Familiares com pedra na vesícula;
  • Gravidez;
  • Reposição hormonal;
  • Uso de anticoncepcional oral;
  • Dislipidemia – Colesterol alto
  • Ganho ou perda de peso muito rápido;
  • Cirurgia bariátrica;
  • Uso de medicamentos análogos de somatostatina;
  • Nutrição para-enteral prolongada;
  • Diabetes;
  • Baixo consuma de fibras e alta em açúcares altamente refinados;
  • Anemia falciforme e outras anemias hemolíticas.
  • Fatores hormonais (em particular, resistência à insulina);
  • Alterações genéticas no metabolismo do colesterol;
  • Variações do microbiota intestinal.

Porém, existem ainda dois fatores locais estritamente dependentes da vesícula biliar. Eles são a função do músculo liso e a supersaturação da bile em colesterol e precipitação de cristais sólidos.

São diversos os fatores que podem facilitar o aparecimento dessa condição. É por isso que é preciso ficar de olho. Se achar que corre o risco, procure um especialista e faça os exames necessários.

2.Quais são os sintomas de pedra na vesícula?

Muitos pacientes são surpreendidos em exames de rotina com o diagnóstico de colelitíase. Esses exames incluem a ultrassonografia de abdome total ou tomografia de abdome. Nesses casos, o paciente afirma que não tinha qualquer queixa ou sintoma.

No entanto, quando as pedras se movem e induzem uma contração espástica da vesícula, iniciam-se os sintomas. Geralmente, isso ocorre após comer gorduras ou temperos mais “fortes”.

Em alguns casos, até o cheiro de alguns alimentos pode desencadear a “cólica biliar”. Os sintomas mais comuns das crises de pedra na vesícula são diversos e ajudam a identificar o problema Eles são: 

  • Dor na região superior direita do abdome, próximo às costelas;
  • Sensação de má digestão e estufamento;
  • Náuseas ou vômitos;
  • Dor nas costas;
  • Perda de apetite ou hiporexia. 

Caso a dor abdominal tenha uma intensidade muito forte e seja associada a vômitos de repetição e olhos amarelos, pode ter ocorrido a inflamação da vesícula. Essa é uma colecistite aguda.

Também pode ter ocorrido migração da pedra da vesícula para o canal da bile, ou colédoco. Por fim, também é possível que tenha evoluído para uma pancreatite aguda biliar. Nestes casos é fundamental procurar atendimento médico de urgência, pois houve uma complicação que necessita de tratamento imediato.

3. É perigoso ter pedra na vesícula?

A colelitíase é uma doença silenciosa na maior parte dos pacientes. No entanto, ao longo da vida, existe o risco das pedras na vesícula criarem situações de grande risco para a saúde. Os 3 principais riscos de quem tem pedras na vesícula são os seguintes:

 

Colecistite aguda: é quando o cálculo biliar fica preso no ducto que escoa bile da vesícula para o colédoco. Essa impactação da pedra desencadeia um aumento da pressão dentro da vesícula, como se fosse uma panela de pressão.

Além disso, também acumula bactérias no seu interior, iniciando-se fortes contrações para expulsar essa pedra. Esse processo é uma inflamação aguda que resulta em uma potencial infecção grave. Existe a necessidade de cirurgia de urgência para que esta infecção não se dissemine pelo corpo (sepse).

Coledocolitíase: pedra que migrou da vesícula e ficou presa no canal da bile (colédoco). Isso resulta em processo de inflamação e infecção progressiva, chamada de colangite.

Essa situação precisa ser resolvida em caráter de urgência por meio da extração do cálculo impactado no canal por meio de procedimento. Isso também é chamado de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE).

Pancreatite aguda: a partir do momento em que a pedra sai da vesícula e passa através do colédoco, existe uma possibilidade de atritar. Também é possível entupir a confluência do ducto da bile com do pâncreas (Wirsung).

Isso acaba por desencadear um processo inflamatório do pâncreas, que é a pancreatite. Felizmente, na maioria dos casos, a pancreatite é leve. No entanto, em 10% dos casos pode ser grave e pode levar a óbito.



Figura 2: Coledocolitíase –pedra da vesícula dentro do canal da bile.


Figura 3: Pancreatite biliar – migração da pedra na vesícula e inflamação do pâncreas.


4. Qual o tratamento de pedra na vesícula? 

Muitos pacientes perguntam se esse processo de “concentração” da bile pela vesícula é reversível e se essas pedras podem ser dissolvidas. Infelizmente, não existe tratamento definitivo e comprovadamente eficaz.

E isso vale pelo uso de medicamentos, que podem dissolver definitivamente as pedras na vesícula. Sendo assim, eles não podem fazer a vesícula biliar retomar seu papel de deixar a bile mais fluida.

O tratamento padrão ouro para tratamento de pedra na vesícula é a colecistectomia por laparoscopia. Existe também a possibilidade de realizar essa cirurgia por via robótica.

Cirurgia para pedra na vesícula

A cirurgia para pedra na vesícula – colecistectomia, é uma das cirurgias mais realizadas no mundo. Ela está entre as top 10, dentro do aparelho digestivo e só perde para a cirurgia para retirada do apêndice.

É realizada com o paciente sob anestesia geral. O tempo cirúrgico gira em torno de 30 e 90 minutos e o tempo necessário de permanência hospitalar é de 12 a 24 horas.

Na colecistectomia laparoscópica, é realizada a retirada da vesícula biliar e das pedras no interior. Diferentemente do que muitas pessoas pensam, não é possível abrir a vesícula e retirar as pedras

Também não é possível bombardear a vesícula com ondas de som, à semelhança do que realizado para tratamento de pedras nos rins. A colecistectomia laparoscópica é segura e apresenta risco de complicações cirúrgicas muito baixas (menor que 1%). Mas deve ser realizada de forma padronizada por cirurgião experiente.

Como é feita a cirurgia?

A colecistectomia laparoscópica é realizada por meio de pequenas incisões ou furinhos na parede abdominal, de 5 a 10mm. Mas, em pacientes que possuem um apelo estético maior, pode ser feita com furinhos ainda menores, de 3mm.

Para isso, utiliza-se material de minilaparoscopia. Além disso, dependendo do caso, a localização dos furinhos pode ser modificada. A extração da vesícula é aplicada no término da cirurgia, puxando-a através de um dos furinhos.

Durante a cirurgia de retirada de pedras da vesícula, é possível verificar se houve alguma migração de pedras antes do procedimento ser realizado. Essa busca pelos cálculos biliares no colédoco chama-se colangiografia intra-operatória, que é realizada quando for necessário.

5.Quem tem pedra na vesícula não pode comer quais alimentos?

Paciente que está esperando para realizar o procedimento necessitam abster-se de alimentos ricos em gordura animal e vegetal. Isso inclui os que têm contraindicação para realização da colecistectomia laparoscópica por alto risco operatório, ou simplesmente não querem realizar a cirurgia.

Lembrando que doces, chocolates, leite integral e azeite são ricos em gordura, além dos temperos fortes. Desta forma, a dieta precisa ser bem rigorosa para diminuir os riscos das complicações descritas na resposta da pergunta 3.

6. Como prevenir pedra na vesícula?

Uma importante medida é incluir mudanças no estilo de vida. Então, atividades físicas, controle de peso, e alterações nos modelos de dieta restringindo gorduras devem ser utilizadas.

E lembre-se de dar preferência a dietas pobres em carboidratos e ricas em proteínas vegetais. Além disso, consuma azeite extra-virgem, ácidos graxos ômega-3, fibras e vegetais, suplementação de vitamina C, frutas e diminua o consumo de álcool.

7. Quais as consequências da retirada da vesícula biliar?

Eu sei que você está se perguntando: Mas essa vesícula biliar que precisa ser retirada na cirurgia não vai fazer falta? A vesícula retirada já estava doente, apresentando dificuldade de solubilizar a bile e com distúrbio de esvaziamento.

Lembre-se de que é o motivo pelo qual desenvolveu as pedras. Portanto, na grande maioria dos pacientes submetidos a colecistectomia laparoscópica, não ocorre qualquer diferença de digestão ou alteração de hábito intestinal.

No entanto, uma minoria de pacientes pode apresentar uma sensação de má digestão e aumento da frequência evacuatória. Mas claro, somente quando ingerem grande quantidade de gordura animal ou vegetal.

Para finalizar, existe alguma recomendação de dieta após a retirada da vesícula? –Sim! Nas primeiras 2 semanas de pós-operatório, recomendamos dieta pobre em gordura animal e vegetal. Esse é um período de adaptação da dinâmica do fluxo biliar hepato-intestinal.

‍Caso haja a necessidade de avaliação do seu caso por um especialista, certifique-se que esse profissional seja Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo. Essa pesquisa pode ser feita por meio do site do conselho regional de medicina do seu estado.

Referências bibliográficas:

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  3. Wilkins T, Agabin E, Varghese J, Talukder A. Gallbladder Dysfunction: Cholecystitis, Choledocholithiasis, Cholangitis, and Biliary Dyskinesia. Prim Care. 2017 Dec;44(4):575-597. DOI: 10.1016/j.pop.2017.07.002
  4. Di Ciaula A, Portincasa P. Recent advances in understanding and managing cholesterol gallstones. F1000Res. 2018 Sep 24;7:F1000 Faculty Rev-1529. DOI: 10.12688/f1000research.15505.1


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