O que é Diverticulite?

A diverticulite aguda é a complicação mais conhecida e temida pelos pacientes que têm doença diverticular dos cólons. É que o processo de inflamação da diverticular do intestino é desencadeado por uma microperfuração do intestino grosso.

O que causa diverticulite?

Essa situação leva a uma série de repercussões na parede do intestino e no interior do abdome como um todo. Mas, antes de falarmos sobre diverticulite e seu tratamento, é importante explicar o que é o divertículo em si!

Figura 1: Ilustração demonstrando os divertículos do intestino grosso.
Figura 1: Ilustração demonstrando os divertículos do intestino grosso.

 

O que é o divertículo intestinal?

Divertículo é uma área de fraqueza na parede intestinal. Ela é muito mais comum no intestino grosso, mas pode ocorrer no intestino delgado também. Essa região enfraquecida do intestino grosso faz com que haja uma brecha ou falha nas camadas da parede intestinal.

Aliás, acontece mais especificamente na camada muscular, o que gera uma protrusão das camadas mais internas. Essas camadas são mais finas e delicadas (mucosa e submucosa), e isso ocorre através da camada muscular.

Em suma, o que chamamos de divertículo do cólon, na verdade, é um pseudodivertículo. É que não existe uma dilatação completa de todas as camadas. Em geral, é realmente difícil de entender esse conceito, por isso vamos explicar melhor.

Figura 2: Ilustração da fina parede do divertículo de cólon.
Figura 2: Ilustração da fina parede do divertículo de cólon.

Qual é a causa dos divertículos?

O principal fator de risco para o desenvolvimento de divertículos no cólon é o próprio envelhecimento. O segundo é a predisposição genética. Então, em relação a esses dois, não é possível fazer muita coisa.

No entanto, outro importante fator de risco para a diverticulite é o consumo baixo de fibras e intestino preso, ou constipação crônica. Isso porque as fezes endurecidas e em bolinhas necessitam de muita força e pressão para conseguirem ser expelidas.

Acontece que esse aumento progressivo e frequente da pressão interna força as regiões mais fracas da parede do intestino. Desse modo, cria-se o abaulamento das camadas e desenvolvimento dos divertículos, que aumentarão em número progressivamente.

Portanto, o aumento do consumo de fibras e líquidos é uma boa regulação do hábito intestinal. Essa é a principal medida para prevenir e evitar a progressão dos divertículos.

Mas, fique de olho. Existe um mito relacionado. As sementes pequenas, como goiaba, tomate, jiló e gergelim, precisam ser evitadas para não inflamar o divertículo? Não! Esse conceito não tem embasamento científico e não passa de crendice popular, apesar de ainda ser recomendado por alguns médicos.

O que causa diverticulite?

Primeiro de tudo, ela é frequente? Sim, infelizmente, entre 10% e 25% dos portadores de diverticulose do cólon evoluem para a diverticulite. É um dos tipos mais comuns de abdome agudo, e uma das principais causas de cirurgia de urgência em Pronto Socorro.

Geralmente, a causa da diverticulite é multifatorial. Mas são vários os fatores que podem causar a condição. Sabe-se que os principais fatores de risco são:

  • Obesidade;
  • Sedentarismo;
  • Tabagismo;
  • Dieta pobre em fibras;
  • Fezes endurecidas e esforço para evacuar;
  • Genética familiar.

Caso algum desses fatores faça parte da sua vida, é preciso ficar de olho. E pior, se mais de um fator estiver presente. Será preciso buscar ajuda médica o quanto antes.

Diagnóstico da diverticulite

O diagnóstico dos divertículos do intestino grosso quando não estão inflamados é realizado por meio do exame de colonoscopia e enema opaco. Eles avaliam o interior dos cólons e conseguem descrever as características dos divertículos, como:

  • O local do intestino que mais tem divertículos;
  • Se são divertículos de orifício largo (que têm mais predisposição a sangramento);
  • Divertículos de base estreita (que têm mais predisposição a inflamação de diverticulite).

O diagnóstico, quando já existem divertículos inflamados em um quadro de diverticulite, pode ser feito por meio de uma tomografia computadorizada do abdome. Ela precisa ser do tipo com contraste. Assim, além de descrever se o local que está inflamado, pode caracterizar:

  • Perfuração intestinal pequena ou grande do divertículo;
  • Vazamento de fezes para o abdome;
  • Se existe a formação de abscessos, que são um acúmulo de pus dentro do abdome.

Como visto, a diverticulite pode ter diversos fatores causadores ou de risco. Porém, ela também pode ter diversas características, afetando cada paciente de forma diferente. Por isso, é preciso contar com um médico coloproctologista para o diagnóstico.

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Tratamento da Diverticulite

Felizmente, o tratamento da diverticulite aguda é bem-sucedido na grande maioria das vezes. E por que isso? Porque na grande maioria das vezes a diverticulite aguda é leve.

Mas é possível que a inflamação do intestino ao redor da microperfuração seja bloqueada pelo próprio mecanismo de defesa da imunidade do paciente. Nesse caso, não existe presença de pus ou fezes dentro do abdome.

Dessa forma, os pacientes com diverticulite leve podem ser tratados somente com antibióticos e uma dieta de repouso intestinal. É por isso que o acompanhamento médico é tão importante para a sua saúde.

E quando a perfuração do divertículo é maior ou a defesa não dá conta de controlar o processo de inflamação?

Nesses casos, existe um processo inflamatório mais intenso, com possibilidade de haver a formação de coleções de pus. Esses são os abscessos abdominais e o extravasamento de fezes para o interior do abdome, que é a chamada peritonite fecal.

Geralmente, quando acontece isso, existe a necessidade de uma intervenção com algum procedimento. Mas, como você deve imaginar, eles são diversos, podendo ser:

  • Drenagem de pus do abscesso por meio de punção aspirativa guiada por tomografia;
  • Cirurgia por laparoscopia para lavagem do pus e colocação de drenos;
  • Punção aspirativa do pus e instalação de dreno dentro do abdome para continuar drenando o pus;
  • Cirurgia por laparoscopia para retirada da parte do intestino que está perfurada e realização de uma costura juntando o intestino novamente (anastomose colorretal);
  • Cirurgia laparoscópica ou aberta para retirar o segmento do cólon que está perfurado e realização de uma colostomia (“bolsinha”) temporária. Geralmente, essa opção é necessária quando ocorre grande contaminação por pus e fezes dentro do abdome.

A indicação de qual procedimento deve ser realizado depende de cada caso. Então, leva-se em conta a gravidade, perfil de cada paciente e experiência do cirurgião.

Por exemplo, um paciente de 40 anos com diverticulite perfurada com pus dentro do abdome e peritonite pode ficar mais calmo. Ele tem muito mais chances de fazer um procedimento menos invasivo, evitando uma colostomia, que um idoso obeso diabético de 80 anos.

Quando a cirurgia é indicada para diverticulite?

Em alguns casos, existe a indicação da realização de uma cirurgia eletiva programada preventiva. Ela serve para evitar que um novo episódio de diverticulite aguda possa ser grave. Assim, isso deve ser considerado principalmente em pacientes jovens e idosos ativos com poucas doenças associadas.

Figura 3: Ilustração demonstrando a parte do intestino grosso doente que foi retirada e juntada novamente com o reto (anastomose colorretal).
Figura 3: Ilustração demonstrando a parte do intestino grosso doente que foi retirada e juntada novamente com o reto (anastomose colorretal).

As cirurgias eletivas são realizadas em condições que chamamos de “ótimas”, pois o paciente é preparado para ser operado. Nesses casos, a chance de sucesso cirúrgico é muito superior comparando-se com uma cirurgia de urgência.

Além disso, ela também é realizada preferencialmente por via minimamente invasiva, por meio da cirurgia robótica ou laparoscopia. Sendo assim, os resultados são bem mais eficazes e animadores.

Outro ponto é o estreitamento crônico do intestino. Ele é causado por episódios repetidos de diverticulite aguda, que é chamado de diverticulite pseudotumoral. É que ele funciona como um falso tumor, estreitando a luz intestinal. Isso também gera uma cirurgia eletiva.

Figura 4: Divertículos do intestino grosso com demonstração de duas complicações: microperfuração da diverticulite e uma fístula do cólon com a bexiga.
Figura 4: Divertículos do intestino grosso com demonstração de duas complicações: microperfuração da diverticulite e uma fístula do cólon com a bexiga.

E no caso das fístulas?

Pacientes com fístulas dos divertículos para a bexiga e vagina, também necessitam de tratamento cirúrgico. Porque elas são comunicações do intestino com outros órgãos. Isso ocorre quando o intestino inflamado e perfurado pela diverticulite encosta e cicatriza na parede destes órgãos.

Desse modo, acabam causando a saída de fezes na urina e pela vagina. Sendo assim, existe a necessidade para que a cirurgia seja realizada.

Se você ou algum familiar tem dúvidas sobre diverticulite ou necessitam de tratamento, procure um especialista. O médico coloproctologista com Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia é o ideal.

 

Referências Bibliográficas:

1. Shah SD, Cifu AS. Management of Acute Diverticulitis. JAMA. 2017 Jul 18;318(3):291-292. doi: 10.1001/jama.2017.6373. PMID: 28719679.

2. Swanson SM, Strate LL. Acute Colonic Diverticulitis. Ann Intern Med. 2018 May 1;168(9):ITC65-ITC80. doi: 10.7326/AITC201805010. Erratum in: Ann Intern Med. 2020 May 5;172(9):640. PMID: 29710265; PMCID: PMC6430566.

3. Zaborowski AM, Winter DC. Evidence-based treatment strategies for acute diverticulitis. Int J Colorectal Dis. 2021 Mar;36(3):467-475. doi: 10.1007/s00384-020-03788-4. Epub 2020 Nov 6. PMID: 33156365.

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