Hérnia de parede abdominal é praticamente um orifício ou falha da musculatura da parede do abdome. E, através desse “buraco” entre os músculos abdominais, podem passar estruturas como gordura de dentro do abdome e até mesmo órgãos como o intestino.
Esse problema é mais comum do que se imagina. Porém, mesmo sendo frequente, ele ainda pode ter graves consequências se não for tratado adequadamente. Em geral, as hérnias de parede abdominal ocorrem quando existe um enfraquecimento da musculatura do abdome.
Essa fraqueza muscular pode ser uma predisposição genética, ou causada por algum fator que desencadeou grande pressão interna no abdômen. Entre eles, estão gravidez, obesidade, grandes esforços físicos durante a musculação ou atividade de trabalho que exige grande esforço muscular.
O tabagismo também é um fator de risco importante para hérnias, assim como a desnutrição. Isso ocorre por desencadearem uma dificuldade na produção de colágeno. Sendo assim, é importante ficar de olho.
Apesar de haver tipos diferentes de hérnias da parede abdominal, os sintomas são similares. O sintoma mais comum de hérnia de parede abdominal é o abaulamento ou formação de uma “bola” no local.
Além da protuberância característica na pele, que pode ou não estar presente, as hérnias podem ter outros sinais característicos. Entre os mais comuns, é possível encontrar fatores como:
O diagnóstico é suspeitado no exame físico e confirmado por exames de imagem como ultrassonografia e tomografia de abdome. No exame físico, o médico realiza manobras de esforço para forçar a parede abdominal e tornar mais evidente a hérnia.
Ou seja, pede-se ao paciente para tossir ou para assoprar a sua mão sem deixar que o ar escape. Assim, aumenta-se a pressão intra-abdominal. Dessa forma, faz-se com que o conteúdo herniário se insinue através de fraqueza da parede abdominal.
Nos casos de hérnias muito pequenas, ou pacientes obesos, pode ser que o exame físico não detecte facilmente. Com a ultrassonografia e tomografia, conseguimos ver o conteúdo da hérnia. É possível ver se é só gordura ou apresenta alças intestinais e o tamanho da fraqueza, ou “buraco”, na parede abdominal.
Qualquer que seja o tipo de hérnia de parede abdominal, o tratamento é sempre cirúrgico. Ela chama-se herniorrafia, e pode ser realizada por 3 métodos: aberta, laparoscópica ou via cirurgia robótica.
Rotineiramente, as técnicas minimamente invasivas – laparoscópica e robótica - são a via de acesso de preferência. Isso porque possuem as seguintes vantagens em relação a cirurgia aberta:
Nas técnicas minimamente invasivas não existe corte, apenas os “furinhos” menores de 1 cm para passagem das pinças cirúrgicas. A anestesia é a geral, para maior segurança e conforto do paciente.
A herniorrafia consiste em fechar a região de falha na parede abdominal, além de reforçar o local de fraqueza. A ideia é diminuir o risco de ressurgimento de nova hérnia no local.
Dependendo do tamanho do defeito na parede abdominal ou do local da hérnia, pode ser utilizada uma tela cirúrgica. Ela é uma prótese de material sintético capaz de criar um importante reforço para evitar que as hérnias voltem a aparecer.
O período de internação é de aproximadamente um dia. Mas, frequentemente, conseguimos dar alta hospitalar com 12h após a cirurgia. A recuperação da cirurgia de hérnia depende do tamanho da hérnia operada.
Porém, em geral, o retorno às atividades normais da rotina ocorre entre 1 e 2 semanas. Para atividades físicas, é normal que o médico peça o afastamento de, pelo menos, 30 dias.
Uma pergunta comum em relação a hérnia de parede abdominal tem relação com as dores. Isso porque, após a ultrassonografia, é comum que a hérnia seja encontrada, mas o paciente não sinta nenhuma dor. Ainda é preciso de cirurgia?
A resposta é: sim, o tratamento cirúrgico é necessário, tendo em vista, que não existe tratamento de hérnia com medicamentos. Quanto mais precoce for a cirurgia, menor será a hérnia a ser operada e melhores serão os resultados.
Quanto mais tempo demorar para resolver a hérnia, mais ela evolui e maiores os riscos de encarceramento e estrangulamento. Dessa forma, é preciso acelerar o diagnóstico e a cirurgia para que a saúde do paciente seja mantida.
Dois dos grandes perigos das hérnias são o encarceramento e estrangulamento. Ambas as situações podem causar consequências graves ao organismo. Por isso, é preciso de acompanhamento com especialistal.
O encarceramento acontece quando o intestino passa pelo defeito da parede abdominal e fica preso dentro da hérnia. Assim, não consegue retornar para dentro do abdome, o que pode provocar uma obstrução intestinal.
O estrangulamento é a evolução do encarceramento não tratado. Nesse caso, o intestino entra no orifício da hérnia e fica preso na abertura que permitiu sua passagem. Assim, ocorre uma redução do fluxo sanguíneo, necrose e risco de perfuração do intestino.
Caso exista perfuração intestinal, o conteúdo do intestino cai dentro do abdome, causando uma peritonite e sepse grave. Os sintomas mais comuns do encarceramento e estrangulamento das hérnias são fortes dores abdominais, náuseas, vômitos e dificuldade para evacuar e soltar gases.
Figura 2: Imagens de intestino encarcerado e estrangulado dentro de uma hérnia.
Há alguns tipos de hérnia abdominal que são mais comuns. Sendo assim, é ideal entender quais são as diferenças entre os tipos, além de saber como elas se comportam. Veja abaixo quais são.
As hérnias umbilicais são as mais comuns. Elas costumam ser fruto de uma fraqueza adquirida ou congênita na região do umbigo. Este tipo de hérnia é muito comum em bebês, apresentando relação com a abertura para a passagem do cordão umbilical.
A hérnia umbilical é caracterizada por uma protuberância no umbigo ou em volta dele. Esse inchaço é formado por gordura ou por uma parte do intestino que conseguiu atravessar o músculo do abdome.
Em adultos, é frequente em pacientes obesos, após gravidez e pessoas que realizam muito esforço físico. Assim como nos outros tipos de hérnias, o tratamento é realizado por meio de cirurgia.
Figura 3: Hérnia umbilical.
A hérnia epigástrica se manifesta na região acima do umbigo. Ela é ocasionada quando há deficiência na fusão das fibras musculares na região central do abdome. Isso pode gerar diversos pequenos orifícios entre os músculos, pelos quais podem surgir as hérnias epigástricas. É comum sua associação com diástase de abdome.
Figura 4: Ilustração de hérnia epigástrica.
A hérnia incisional aparece em uma região do abdome que já passou por um procedimento cirúrgico. A incisão realizada durante a cirurgia prévia pode causar um enfraquecimento da musculatura na região. Isso propicia, então, o surgimento de uma hérnia.
Em alguns casos, a cicatrização inadequada gera esse tipo de hérnia ou infecções nas incisões durante o período de recuperação cirúrgica. Elas são mais frequentes em pessoas com obesidade, que tiveram uma infecção da ferida operatória, fumantes, ou em portadores de diabetes.
Para a correção da hérnia, é necessária uma nova cirurgia. O cirurgião pode voltar a abrir a cicatriz antiga ou fazer uma cirurgia por laparoscopia ou cirurgia robótica para correção da hérnia.
Figura 5: Ilustração de hérnia incisional.
São as hérnias na região da virilha. As hérnias deste tipo são mais frequentes nos homens e do lado esquerdo do corpo, mas podem ocorrer em mulheres dos dois lados da virilha.
Além disso, há dois tipos de hérnias inguinais. A hérnia inguinal direta é mais comum nos adultos e idosos. Ela ocorre após fazer esforços que aumentam a pressão no abdome, como pegar em objetos pesados ou exercício físico intenso.
Já a hérnia inguinal indireta é mais comum nos bebês e crianças. Acontece por um problema congênito que permite a entrada de um pedaço do intestino na região da virilha e até bolsa escrotal.
Ambas são tratadas por meio de intervenção cirúrgica, preferencialmente por cirurgia laparoscópica ou robótica. Neste caso, no reparo das hérnias inguinais é obrigatório o uso de telas cirúrgicas para diminuir o risco de recidiva.
Figura 6: Ilustração demonstrando hérnia inguinal.
Por fim, a hérnia femoral ou crural é semelhante à hérnia inguinal. Porém, ela fica localizada na porção mais inferior da virilha, quase no início da coxa.
A hérnia femoral atravessa uma passagem anatômica do corpo por onde passam importantes vasos sanguíneos e nervos da coxa. É mais frequente em mulheres.
A indicação é corrigi-la o mais rápido possível, pois esse tipo de hérnia apresenta grandes chances de encarceramento e estrangulamento. Sendo assim, é preciso ficar de olho.
Figura 7: Ilustração demonstrando hérnia femoral ou crural.