Dispepsia compreende uma série de sintomas relacionados ao estômago (região epigástrica), entre o umbigo e o tórax, sendo geralmente designada por má digestão ou gastrite.
Sintomas dispépticos são muito comuns na maioria da população e, apesar de raramente se tratar de uma enfermidade maligna, são bem incomuns, o que quase sempre motiva o paciente a procurar ajuda médica, pois a dispepsia pode prejudicar significativamente a qualidade de vida.
O aparecimento da dispepsia pode ter como causa diferentes doenças digestivas, em particular doenças que afetam o estômago e o duodeno (primeira porção do intestino). A gastrite ou a úlcera péptica gástrica ou duodenal estão entre as principais causas do surgimento dos sintomas da dispepsia – ambas podem ser o resultado do uso de medicamentos, como analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais. Na maioria dos casos, também podem ser causadas pela bactéria Helicobacter pylori.
Em alguns pacientes, os sintomas da dispepsia podem ter origem em outros órgãos, surgindo, por exemplo, em consequência de doença pancreática ou de cálculos biliares (pedra na vesícula).
Na maioria das vezes, a dispepsia é decorrente de algum distúrbio que pode surgir mesmo sem estar relacionado com outras doenças, sendo chamada de dispepsia funcional.
É bastante raro, em pessoas com idade inferior a 35 anos, que a dispepsia esteja relacionada com doenças malignas.
Os sintomas podem ser divididos em duas classes distintas:
Outros sintomas podem estar frequentemente associados, como náuseas, eructação (arrotar em excesso), azia e sensação de estômago distendido (pacientes com doença do refluxo gastroesofágico e síndrome do intestino irritável apresentam frequentemente dispepsia associada).
Os sintomas apresentados por si só não permitem distinguir dispepsia funcional (condição sempre benigna) de dispepsia decorrente de doenças orgânicas (úlceras, cálculos biliares etc.)
A avaliação médica é sempre necessária e, apesar de frequentemente não ser essencial a realização de exames complementares, exames laboratoriais (sangue e parasitológico de fezes) e ultrassom abdominal podem ser úteis.
Não é rara a relação de intolerância alimentar com sintomas dispépticos (em especial à lactose, à frutose e ao glúten) – tais casos devem ser avaliados. Por meio da endoscopia digestiva alta se observam diretamente os revestimentos internos do esôfago, do estômago e do duodeno, sendo esse o exame mais importante para esclarecer o diagnóstico. Também é possível pesquisar a presença de Helicobacter pylori.
Medidas comportamentais e o uso de medicamentos costumam ser suficientes para controlar e melhorar significativamente os sintomas da dispepsia em muitos pacientes.
Quando os exames realizados identificarem uma doença orgânica para explicar os sintomas, o tratamento será orientado conforme cada diagnóstico.
Gastrite significa inflamação da mucosa gástrica (camada que reveste a parede do estômago). A inflamação pode acometer toda a mucosa do estômago ou apenas algumas regiões. Pode surgir de forma aguda (súbita), ter curta duração e desaparecer, na maioria dos casos, sem deixar sequelas. A gastrite crônica se manifesta lentamente, mas a mucosa do estômago pode permanecer inflamada por meses ou até anos.
A gastrite aguda normalmente é causada por abuso na ingestão de álcool, uso frequente de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais e intoxicações alimentares, sendo, por isso, considerada de caráter transitório.
Na gastrite crônica, que possui alta prevalência, a infecção por Helicobacter pylori é considerada sua principal causa.
O sintomas da dispepsia normalmente são chamadas de forma errada de gastrite. Em geral, a gastrite não apresenta tantos sintomas – os pacientes referem um pequeno incômodo estomacal, como queimação na “boca” do estômago, para alguns, melhora, mas, para outros, piora com as refeições.
Há pacientes com muitos sintomas que não tem gastrite, e sim dispepsia funcional, e há outros com pouco ou nenhum sintoma que podem ter o estômago todo inflamado.
O diagnóstico da gastrite não pode ser dado apenas com base nos sintomas, mas sim por meio dos achados endoscópicos (exame de endoscopia digestiva alta) e por biópsia, que constata a presença de Helicobacter pylori.
A intensidade dos sintomas também não é um bom preditor de gravidade da gastrite. Ter muita ou pouca dor no estômago não significa que a gastrite é mais ou menos grave. Há pacientes com gastrite erosiva e úlceras que referem pouca dor e há pessoas com sintomas fortíssimos, que apresentam pouca ou nenhuma inflamação no estômago quando realizam endoscopia digestiva.
O tratamento da gastrite deve ser individualizado e focado na sua causa, podendo ser facilmente tratado com medicamentos e mudanças de hábito de vida.