As bactérias presentes em nosso “pool” de microbiota intestinal evoluem simultaneamente aos seus hospedeiros (no caso, nós) e fazem parte integrante do corpo humano, atuando ativamente em praticamente todos os nossos tecidos.
A microbiota adquirida no nascimento e consolidada na infância mantém a sua composição e diversidade de bactérias estabilizada da idade adulta até a morte. Isso quer dizer que as bactérias que foram “escolhidas” para fazer parte do microbioma do nosso corpo quando somos bebês e crianças é mantida para vida toda. E essa é a importância de nos preocuparmos com isso desde a infância.
Desenvolvimentos recentes em tecnologias de sequenciamento de genoma e bioinformática permitiram aos pesquisadores explorar a microbiota e, em particular, suas funções em um nível mais detalhado do que antes.
As evidências acumuladas sugerem que embora uma parte da microbiota seja conservada ao longo da vida, eventos como uso de antibióticos por períodos prolongados, dietas disfuncionais e inflamatórias, localização geográfica, doenças adquiridas, exposição prolongada a alérgenos, estresse e até cirurgias do trato gastrointestinal (como cirurgia bariátrica, retirada de parte do intestino e ostomias), além de tratamentos oncológicos, radioterapias, imunoterapia, tudo isso pode levar a uma alteração transitória da microbiota, que seria a chamada microbiota dinâmica.
Embora o microbiota intestinal seja dinâmico, desempenha algumas funções básicas dos sistemas imunológico, metabólico, digestivo, endócrino e neurológico do corpo humano, exercendo influência significativa na saúde física e mental das pessoas. Uma compreensão aprofundada do funcionamento da microbiota intestinal levou a alguns desenvolvimentos muito interessantes no tratamento e prevenção de doenças causadas ou pioradas pela alteração da “flora nativa”, como prebióticos, probióticos, medicamentos e transplante fecal, promovendo saúde e cuidando e agindo como adjunto no tratamento de algumas doenças.
Figura extraída de: Adak A, Khan MR. An insight into gut microbiota and its functionalities. Cell Mol Life Sci. 2019 Feb;76(3):473-493.
Esta é uma pergunta pertinente já que, como vimos, o papel da microbiota intestinal em nossa saúde é bem relevante.
A frequência da reposição de bactérias intestinais de nosso interesse depende muito de como cuidamos da nossa “flora” e do tipo de dieta que temos – ultraprocessados x orgânicos. Além disso, é preciso entender a sua atual condição de saúde em termos de problemas e doenças associadas. Mas, de maneira geral, analisar o que sentimos em termos de dor abdominal, alteração de sono e disposição, estufamento abdominal, gases e flatulência. Porque, geralmente, o uso contínuo de probióticos e prebióticos não é necessário.
Existem várias “famílias” de bactérias que agem em sinergia para controlar as bactérias “ruins”, além de promover a saúde intestinal. Mas, podemos citar os 2 principais grupos que são:
- BIFIDOBACTÉRIAS
- LACTOBACILOS
Veja bem, os antibióticos são as medicações que usamos para “matar” as bactérias quando estamos com alguma infecção bacteriana. Logo, quando fazemos uso destas medicações, podemos causar a morte também das bactérias boas que habitam o nosso intestino.
Nós costumamos dizer que prever e prevenir uma potencial alteração da flora intestinal é uma “boa prática”, sendo assim, é SIM recomendada a recomposição do microbiota durante e após os tratamentos com antibióticos.
Atualmente, a reposição de microbiota intestinal como forma de tratamento de atividade de doença e controle de sintomas em pacientes portadores de Doença Inflamatória Intestinal ainda é um tema controverso, e não existe consenso na literatura. Há publicações científicas que descrevem o benefício da prescrição de prebióticos e probióticos para pacientes portadores de Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa, no entanto, também existem publicações de estudos respeitáveis que não estimulam essa prática por não demonstrar claro benefício. Racionalmente, o uso de bactérias pré-selecionadas para compor o microbiota de um paciente portador de doença intestinal, por seu benefício na prevenção e controle de outras doenças, faz sentido! Talvez seja uma questão de tempo para outros estudos nos darem uma resposta direta e sólida para nos amparar.
Espero que este texto traga novas informações e responda suas principais dúvidas. Saliento que a consulta com especialista em aparelho digestivo, alergologia, pediatria, nutrologia e outras áreas como nutrição é fundamental para estabelecer uma orientação profissional e planejar um programa de prevenção e tratamento. A automedicação não deve ser estimulada.
1.Adak A, Khan MR. An insight into gut microbiota and its functionalities. Cell Mol Life Sci. 2019 Feb;76(3):473-493.
2. Turroni F, Milani C, Duranti S, Lugli GA, Bernasconi S, Margolles A, Di Pierro F, van Sinderen D, Ventura M. The infant gut microbiome as a microbial organ influencing host well-being. Ital J Pediatr. 2020 Feb 5;46(1):16.
3. Yadav M, Verma MK, Chauhan NS. A review of metabolic potential of human gut microbiome in human nutrition. Arch Microbiol. 2018 Mar;200(2):203-217.
4. Ventura M, Milani C, Turroni F, van Sinderen D. Envisioning emerging frontiers on human gut microbiota and its applications. Microb Biotechnol. 2021 Jan;14(1):12-17.